EntreMeio
2018
Durante as festas populares do Cariri, o sertão cearense se traveste de outros sertões, aparecendo os grupos brincantes do Bumba-meu-boi, Banda Cabaçal, Pastoris, Congos e Reisados. Dentre estes, existe também os “Cães”, que aparecem no dias de Quilombo, sendo um grupo composto por personagens anônimos e por vezes agressivos, abrindo o cortejo do reisado com o pretexto de protege-los.
Me interessa muito esse universo da anulação da identidade desses indivíduos que, quando caracterizados, transcendem as regras, incorporando seus personagens de vestes negras e mascaras assustadoras. Esses seres, transitam entre homem/ bicho, entre o sagrado / profano , entre o visível / invisível. São fugitivos do imaginário popular, transfigurados em entidades sinistras que chicoteiam estridentemente o asfalto tomando posse das ruas da cidade, direito esse sempre negado as comunidades da periferia. São brincantes enigmáticos que, tomados pela bestialidade humana, saem espalhando terror.
A ausência de um rosto real lhes confere o direito à explosão dos instintos mais primitivos, assumindo assim outras representações e reivindicando para si as ruas e as atenções. Projeto da artista desenvolvido em 2018